sexta-feira, 22 de abril de 2016

Dono de empreiteira delata Temer, Renan, Erenice e propina para Dilma


 
O engenheiro José Antunes Sobrinho, de 63 anos, prosperou nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ele é um dos donos da Engevix, empreiteira que ascendeu a partir de 2003, por meio de contratos, financiamentos e empréstimos obtidos com estatais e bancos públicos. A empresa valia R$ 141 milhões em 2004. 
Dez anos depois, faturava R$ 3,3 bilhões. O modelo de negócios de Antunes era simples e eficiente, adaptado ao capitalismo de Estado promovido pelos governos petistas. Consistia em corromper quem detivesse a caneta capaz de liberar dinheiro público à empresa dele. 
Ou, se esse estratagema não fosse suficiente, corromper os chefes políticos e amigos influentes daqueles que detivessem as canetas. Antunes e seus sócios pagavam propina, portanto, para conseguir o acesso ao dinheiro público barato que, por sua vez, permitiria à Engevix conseguir, mediante mais propina, os grandes contratos públicos de serviços e obras, em estatais como Petrobras, Eletronuclear, Furnas, Infraero e Belo Monte. 
Antunes era bom no que fazia, conforme atestam os números da Engevix. 
Talvez bom demais. 
A exemplo de outros empreiteiros que seguiam o mesmo modelo de negócios, foi preso na Operação Lava Jato. Tornou-se acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e, entre outros crimes, de participar do cartel de empreiteiras que, associado em especial aos políticos do PT e do PMDB, destruiu a Petrobras e devastou outras estatais durante os governos Lula e Dilma. 
Preso desde setembro em Curitiba, Antunes resolveu entregar aos procuradores da Lava Jato tudo – ou grande parte – do que sabe. As negociações, que estão em estágio avançado, passaram a envolver recentemente a equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. 
Muitos dos crimes admitidos por Antunes envolvem, direta ou indiretamente, políticos com foro privilegiado – aqueles que, muitas vezes, são os donos de fato de quem move as canetas nas estatais. A revista ÉPOCA obteve acesso, na íntegra e com exclusividade, à última proposta de delação entregue pelos advogados de Antunes aos procuradores. São 30 anexos, cada um deles com fatos, pessoas e crimes distintos. 
No documento e em conversas com procuradores da República, Antunes disse ter pago propina a operadores que falavam em nome do vice-presidente da República, Michel Temer, e do presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos do PMDB. 

Segundo ele, nos governos petistas, os dois patrocinaram a nomeação de afilhados políticos em estatais como Petrobras e Eletronuclear. 
Antunes também afirmou ter pago milhões em propina ao caixa clandestino do PT, em razão de vantagens indevidas obtidas pela Engevix na Caixa, no fundo de pensão do banco, a Funcef, em Belo Monte, na Petrobras e no Banco do Nordeste. 
Ainda de acordo com Antunes, o PT, em especial por meio de José Dirceu e João Vaccari, ambos presos na Lava Jato, também patrocinava afilhados políticos nesses órgãos públicos. Antunes disse que foi pressionado por Edinho Silva, então arrecadador de Dilma e hoje ministro no Planalto, a financiar a campanha da presidente em 2014. 
Antunes e boa parte dos principais delatores da Lava Jato afirmam que esse modelo de negócios só era possível graças à maior das canetas: a do presidente da República. Sem ela, seja com Lula, seja com Dilma, nenhum desses afilhados políticos estariam nos postos para os quais foram despachados por PT e PMDB, os dois principais partidos da coalizão governista. 
Para manter boas relações com o Planalto, Antunes diz que pagou para ter a influência do advogado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma, conforme revelou ÉPOCA. Afirma que pagou, também, para a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que foi, até 2010, a principal assessora de Dilma.

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