quinta-feira, 16 de abril de 2015

Travesti fica desfigurada após prisão; Defensoria diz haver indício de tortura

travestiagredidoFoto: Reprodução/Facebook; Divulgação/Defensoria Pública)
A travesti Verônica Bolina acusa policiais militares e civis de agredi-la quando foi presa em São Paulo, de acordo com nota divulgada por órgão da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Verônica foi detida na sexta-feira (10) por suspeita de tentar matar uma vizinha idosa. Depois, no domingo (12) arrancou a dentadas a orelha de um carcereiro dentro de um distrito policial.
O G1 teve acesso a fotografias feitas pela Defensoria Pública que mostram Verônica com o rosto inchado e desfigurado, além de lesões e hematomas na barriga e nas costas. Gravações nas quais a travesti isenta os policiais de tortura são questionadas pela Defensoria (ouça e leia mais abaixo).
Para o núcelo especializado de combate à discriminação da Defensoria Pública, há indícios de tortura, maus-tratos, excessos, abusos, exposição indevida da imagem, coação e constrangimento ilegal envolvendo a prisão e contenção de Verônica.
“Há suspeita de tortura em virtude de como o rosto de Verônica ficou desfigurado”, diz a defensora pública Juliana Belloque. “É difícil acreditar que para conter uma presa ela tenha que ficar com o rosto espancado”.
A denúncia de agressão foi feita, inicialmente, ao Centro de Cidadania Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT), vinculado à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Campanha na internet #SomostodasVerônica pede respeito às travestis.
Nota divulgada pelo Centro de Cidadania informa que Charleston Alves Francisco, de 25 anos, que usa o nome social de Verônica Bolina, relatou “ter sofrido agressão em vários momentos por parte de policiais militares e de “preto”, fazendo referência aos agentes do Grupo de Operações Estratégicas (GOE), ocorridas no momento de sua prisão” e “durante o episódio em que atacou o carcereiro da Polícia Civil por conta de uma troca de cela e no Hospital do Mandaqui quando do atendimento médico”.
Verônica foi presa na sexta-feira (10) por suspeita de tentativa de assassinato a uma vizinha idosa. No domingo (12), a travesti supostamente se envolveu em confusão com outros presos e foi acusada de arrancar a dentadas a orelha de um carcereiro.
A equipe de reportagem não conseguiu falar com Verônica, que permanece detida no 2º Distrito Policial, Bom Retiro, a espera de uma vaga no sistema prisional. Segundo a nota do Centro, agora, Verônica está numa “cela individual e tem garantido o uso de suas roupas femininas e peruca de uso próprio, respeitando a sua identidade de gênero”.
O Centro informou ainda que “intermediou o encontro de Verônica com sua mãe, Marli Ferreira Alves Francisco” e que está dando “assessoria jurídica e psicológica” à família da travesti.
Conduta dos policiais
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Corregedoria da Polícia Civil instaurou procedimento para apurar a conduta dos policiais envolvidos na contenção de Verônica e vazamento de fotos envolvendo o caso.
Segundo o delegado Luiz Roberto Hellmeister, titular do 2º DP (Bom Retiro), Verônica foi indiciada por tentar matar uma senhora de 73 anos, resistência e tentativa de evasão, entre outros crimes.
Ela foi ouvida na tarde desta quarta-feira. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, os policiais que ouviram o depoimento afirmam que ela confirmou que, quando estava detida em uma cela, expôs a genitália e começou a se masturbar, o que provocou a revolta dos outros presos.
De acordo com a versão da polícia, para conter a situação, um carcereiro entrou na cela para retirá-la, quando Verônica o atacou com uma mordida na orelha. O delegado esclarece que Verônica se machucou durante esses confrontos.
O delegado apontou, ainda em nota divulgada pela secretaria, que Verônica, por causa da sua condição sexual, pode solicitar uma sala separada do restante dos presos, mas que não houve esse pedido. Verônica permanece na delegacia de maneira provisória, até a destinação para uma unidade da Secretaria de Administração Penitenciária.
Sobre a queixa de que o cabelo de Verônica teria sido cortado, o delegado esclarece que ela já tinha cabelos curtos quando chegou à delegacia, pois costumava usar peruca antes de ser presa”, diz a nota.



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