O presidente da Câmara afirmou ser vítima de uma conspiração política. Em delação, o lobista Júlio Camargo afirmou que Cunha teria cobrado US$ 5 milhões de propina
“Essa lama, em que está envolvida a corrupção da Petrobras, cujos tesoureiros do PT estão presos, essa lama eu não vou aceitar”, disse o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao oficializar o rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), nesta manhã de sexta-feira (17/7). O parlamentar afirmou, no entanto, que cumprirá seu papel constitucional. Também criticou as denúncias da Operação Lava-Jato e ressaltou que "está certo que é uma orquestração e tem a participação do governo".Na entrevista, Cunha afirmou que no Palácio do Planalto há "um bando de aloprados" que, segundo ele, "vive de criar constrangimentos". "O governo faz tudo para me derrotar. (...) O governo sempre me viu como uma pedra no sapato. O governo não me queria, nunca me quis e não me quer como presidente da Câmara. O governo não me engole", disse o presidente da Câmara.
Cunha também acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de agir para ser reconduzido ao cargo. A atitude de Cunha é uma retaliação ao Palácio do Planalto, após a divulgação da delação de Júlio Camargo, nessa quinta-feira (16/7), de que ele teria cobrado US$ 5 milhões em propina. Ontem, ele se encontrou com o vice-presidente da República, Michel Temer, comandante do PMDB, para tratar do assunto. Eles tiveram uma conversa na Base Aérea de Brasília momentos antes de o vice deixar a capital federal. Segundo relatos, o presidente da Câmara se mostrava "indignado".
Caindo fora
Ontem, ele afirmou que agora "todos estão falando a mesma língua" em seu partido em relação ao rompimento da aliança com o PT para as próximas eleições. Segundo Cunha, os peemedebistas estão "doidos para cair fora". "Ninguém aguenta mais aliança com o PT", resumiu.
Cunha frisou, a todo momento, que falava por ele. Mas acrescentou que tentará convencer seu partido, o PMDB, a tornar-se oposição também. Para o presidente da Câmara, há uma ação orquestrada para prejudica-lo. “Não tive evolução patrimonial e fizeram a Receita Federal fez uma devassa nas minhas contas. A certeza de que a PGR está em conluio com o Executivo para me constranger. Por que não abriram denúncias contra o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o senador Delcídio Amaral (PT-MS, líder do governo no Senado)”, indagou Cunha. Ele lembra que não existem doações de Júlio Camargo para campanhas do PMDB, só do PT. “Não estou dizendo que eles são culpados. Só estou dizendo que há dois pesos e duas medidas”, reclamou.
O presidente da Câmara disse que há um bando de aloprados no Planalto, embora não queira citar nomes de quem seria eles. “Não faço acusações levianas, como eles fazem. Não ajo assim”, acrescentou. Em 2006, o escândalo dos aloprados levou dois assessores do PT à cadeia por suspeita de pagamento para a compra de um dossiê falso contra o candidato do PSDB ao governo de Sâo Paulo, José Serra. O candidato do PT, na época, era Aloizio Mercadante.
Cunha disse que o governo nunca o quis, e não o quer na presidência da Câmara. “Há um ódio pessoal contra mim”. Ele também pediu aos advogados que entrem com uma representação para que o processo que o envolve vá para o Supremo Tribunal Federal, por ele ter foro privilegiado. “O juiz Sérgio Moro quer assumir as funções do STF. Ele acha que o STF mudou-se para Curitiba”, ironizou.
O presidente da Casa assegurou que seu novo posicionamento não significa que verá com novos olhos a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. “Não tenho como separar a opinião de presidente da de deputado. Como presidente, digo que ainda não há base legal e que essa questão deve ser analisada do ponto de vista constitucional”. disse ele, acrescentando, no entanto, que ele próprio jamais cometeu irregularidades ou “irresponsabilidades fiscais”. Essas irresponsabilidades fiscais, as chamadas pedaladas, serão julgadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e podem culminar com o impeachment da presidente.
O peemedebista fluminense afirmou ainda que conversou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre a decisão que tomaria. Segundo ele, o correligionário entendeu a posição tomada, mas não adiantou se faria o mesmo caso fosse vítima de situação semelhante.
Outras retaliações ao governo devem ser colocadas em prática pelo PMDB. Além da convocação de ministros mais próximos de Dilma, logo após o final do recesso parlamentar, também serão instaladas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigar o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e os Fundos de Pensões. Para atormentar o sono do Palácio do Planalto, contrário à criação das comissões, articula-se a entrega das relatorias a integrantes da oposição.
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Delação
Júlio Camargo afirmou que o suborno cobrado por Cunha, referentes a dois contratos de navios-sondas da Petrobras que somavam R$ 1,2 bilhão, assinados entre 2006 e 2007, foi pago por intermédio de Fernando Baiano. O doleiro Alberto Youssef participou da transação. O valor total devido em propina pelo executivo era 10 milhões de dólares. Uma parte para Baiano e a outra para Cunha. Camargo apresentou planilhas para provar os repasses feitos em contas do exterior e também pagos diretamente às empresas de Baiano, apontado como o operador do PMDB no esquema de corrupção.
O presidente da Câmara reafirmou que já se encontrou duas vezes com o lobista Fernando Baiano, mas para discutir a medida provisória dos Portos. Cunha chamou Camargo de mentiroso. “Quem não deve não teme. Ele está mentindo”, refutou. “Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las”, afirmou o parlamentar, em nota distribuída minutos antes. “Em quatro oportunidades ele não citou o meu nome e agora cita? Não vou mudar minha atitude política por causa de um bandido, réu confesso, que está preso. Ele que prove o que está falando”, vociferou Cunha.
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