sábado, 18 de julho de 2015

Eduardo Cunha: Uma estrela cadente. Ou fogo-fátuo


Ricardo Noblat
Sabe o que são estrelas cadentes? Não são estrelas. São rastros luminosos de meteoros que se desintegram ao entrar na atmosfera da Terra.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tem pela frente o desafio de provar que não é uma estrela política cadente.
O rompimento com o governo é um sinal do desespero que tomou conta dele depois que um consultor de empresas confessou ter lhe dado dinheiro desviado de negócios com a Petrobras.
Sinal de desespero e também a encenação de uma farsa. Porque só se rompe com algo a que se está ligado. Cunha jamais esteve ligado ao governo. Dele só queria auferir benefícios.
O temperamento agressivo e histriônico do deputado só lhe permite a busca de saídas arriscadas, bruscas e barulhentas para eventuais dificuldades que enfrenta. Foi novamente o caso.
Ninguém com o mínimo de conhecimento sobre como as instituições funcionam neste momento acreditará que o governo manda no Ministério Público, como quer fazer crer Eduardo Cunha.
E que, portanto, foi o governo que mandou o Ministério Público perseguir Cunha para sujá-lo com a lama que quase entupiu os dutos da Petrobras.
Se o governo tivesse tal poder, salvaria Lula de qualquer investigação criminal, e também todos ou os principais aliados envolvidos na Operação Laja-Jato. Cunha sabe o que fez ou deixou de fazer.
O falso rompimento dele com o governo é solitário. Os colegas dele de partido, e os aliados temporários, passarão as próximas semanas de recesso do Congresso avaliando o que está por vir.
O governo dispõe de muitos meios para manter o grosso do PMDB a seu lado. Entre esses meios, o fisiologismo escancarado, que costuma ser o mais eficiente de todos.
Se a Michel Temer (PMDB-SP), coordenador político do governo, não se deu o poder de distribuir cargos e liberar dinheiro para obras nos redutos eleitorais dos parlamentares, agora se dará.
O PMDB, principalmente ele, cobrará caro para não permanecer na Câmara ao lado de Cunha. Tudo será uma questão de preço. E o governo tem caixa para pagar, sim.
Aos que gostam de admirar o falso brilho das estrelas cadentes acompanhado, às vezes, de trovoadas, um conselho: aproveitem o espetáculo, mas nada de se deixarem enganar por ele.
Muitas vezes, trata-se apenas de fogo-fátuo, “uma luz azulada que decorre da inflamação espontânea do gás dos pântanos”.
Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados (Foto: Dida Sampaio / Estadão)Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados (Foto: Dida Sampaio / Estadão)

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