Na Coluna Plural, do Novo Jornal.
Dois discursos, uma farsa.
“Há indivíduos que quando nascem não aumentam a humanidade nem a diminuem quando morrem”.
Esse desabafo do Bruxo do Cosme Velho entra no caráter de certas figuras como se luvas fossem, a proteger do frio os dedos desagasalhados.
O Brasil vive momento típico desse caráter macunaímico, onde os culpados das faltas graves usam as acusações secundárias como apanágio da sua própria pilantragem.
Pedir a intervenção militar não é apenas uma estupidez. É uma impossibilidade; inviável. Sem chance. Não pode ser usada como desculpa para desmerecer o conjunto das reivindicações perfeitamente plausíveis.
Um ou outro idiota que apareceu pedindo a volta da Ditadura não tem o condão de descoroçoar a beleza do movimento que encheu o Brasil. Pacífico. E não se venha com essa besteira de acusá-los de “elite”. Elite, em política, é quem está no poder.
Há uma lição do jargão militar que ensina: “Não tema do inimigo o que ele quer contra você. Tema o que ele pode contra você”.
O inimigo-mor da Democracia, hoje, é a corrupção e não os cartazes dos idiotas. A corrupção pode tudo contra a Democracia, por isso merece temor. Os cartazes dos idiotas nada podem. A não ser servir de pretexto pra querer tapar o sol com urupemba.
O golpe de 64, paridor da pior ditadura da nossa história, teve condições objetivas completamente diferentes da realidade atual.
Senão vejamos. No pós-guerra quente, entra em cena a guerra fria. A America do Sul passa a ser área estratégica do interesse norte-americano, tendo o Brasil como núcleo dessa geopolítica. Não havia limite de gasto em grana, armas e instrução para instaurar e manter ditaduras aliadas desse interesse. Hoje, a única caricatura ditatorial do continente é a Venezuela, de feição antiamericana.
Aqui, as forças militares do Brasil formavam um grande partido político armado. Os tenentes da Década de Vinte, coronéis dos anos Quarenta e generais dos anos Cinquenta. De 46 para 64, tivemos três generais e um brigadeiro candidatos à Presidência.
Eurico Dutra, Eduardo Gomes (duas vezes), Juarez Távora e Henrique Lott. Até JK era coronel da Polícia. Militares por conveniência. Políticos por vocação. Milicada politizada. No bom e mau sentido.
Hoje, as forças Armadas cumprem seu papel constitucional. São militares por vocação e não políticos fardados. Ninguém sabe o nome dos Comandantes dos Exércitos. Nem se vê Generais falando de política. Só os de pijama, senis e saudosos dos seus poderes ditatoriais.
Portanto, essa babaquice de pedir intervenção militar me parece coisa de provocação. Eles merecem a mesma atenção de um anjo da Rua Conde Lages, ao ver e fingir não ver a vizinhança prostituída. Té mais.
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