Por Estadão Conteúdo
Exatos dois anos atrás, o mundo parou para ouvir “Habemus Papam!” da varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano. E surpreendeu-se com quem ali apareceu: o então cardeal argentino d. Jorge Mario Bergoglio, a partir daquele momento, papa Francisco.
“E agora eu gostaria de dar a bênção, mas antes… Antes, peço-vos um favor: antes de o bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que Ele me abençoe: a oração do povo que pede a bênção para o seu bispo. Façamos em silêncio esta oração de vós por mim.”
Suas primeiras palavras como sumo pontífice da Igreja Católica já foram carregadas de simbolismo, mostrando que Francisco pretendia imprimir mudanças espirituais, morais e estruturais na instituição que começava a comandar naquele 13 de março de 2013.
“De lá para cá, ele tem mostrado que está mais preocupado em fazer uma renovação da Igreja enquanto mudança de espírito do que uma reforma estrutural”, avalia o sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
“Ele entende que são três os degraus de uma mudança dentro da Igreja: o espiritual mudado reflete no moral; e o moral mudado implica no estrutural”, afirma.
De acordo com Ribeiro Neto, essa preocupação do papa, que completou 78 anos em dezembro, fica clara em seus gestos mais naturais. “Quando ele vai visitar refugiados no Sul da Itália ou quando decide circular em um bairro pobre na periferia de Roma, por exemplo. Nessas situações, ele manda um recado para a Cúria: ‘Vocês, cardeais, que estão aqui na Itália desde sempre, nunca fizeram isso'”, diz o especialista. “É o jeito dele de promover a renovação.”
Cúria
O distanciamento entre Francisco e a Cúria Romana, aliás, é o principal ponto a ser resolvido pelo Vaticano. “Do ponto de vista sociológico, coexistem dois poderes: um carismático, evidentemente instituído pelo direito canônico, porém, com seu percurso, suas convicções; e a Cúria Romana, que continua com seus rumos e suas práticas”, afirma o sociólogo e teólogo João Décio Passos, também da PUC-SP.
Uma reforma da Cúria estaria em andamento – Francisco já teria encaminhado as diretrizes ao colégio cardinalício, mas o processo segue em sigilo. “Por enquanto, ele optou por uma reforma gradual, em vez de radical. Ou seja, procura agir por convencimento, pelos discursos, pois manteve até mesmo os que lhe são mais hostis na Cúria”, explica Passos.
Jesuíta
A espontaneidade com que o papa parece tratar os temas, entretanto, deve ser interpretada, de acordo com o sociólogo. “Ele é um jesuíta”, explica Passos. “Tudo o que ele fala foi cuidadosamente pensado e planejado. Certamente, Francisco só lança as coisas depois de muito refletir.”
Em artigo publicado na última edição do jornal O São Paulo, informativo oficial da Arquidiocese de São Paulo, o cardeal-arcebispo d. Odilo Pedro Scherer lembrou o aniversário do pontificado de Francisco. “Cada papa é diferente e desempenha a sua missão com as características de sua pessoa e de sua formação cultural.”
“Francisco leva para a universalidade da Igreja a contribuição da América Latina e de sua formação sacerdotal e jesuítica. Isso é enriquecedor para a Igreja. O exercício de sua missão é marcado pela simplicidade, pelo modo direto e fácil de se relacionar com as pessoas e por suas palavras de impacto comunicativo”, escreveu d. Odilo.
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